quinta-feira, 11 de maio de 2017

Para lembrar Umberto da Silva


Meu querido amigo Umberto da Silva...

...você foi embora muito cedo. No dia 6 de maio de 2008, teria completado 57 anos. Seu coração não deixou margem a essa comemoração, que teríamos estimado tanto! Você foi embora em março de 2008.

Muitos lembram de sua presença forte no palco; outros, de seu sorriso simpático, de seu bom humor, de sua alegria. Muitos, com certeza, de sua grande capacidade como professor, como mentor de projetos. Lembram de sua presença de bailarino. Exato e expressivo. De seu carisma, perceptível mesmo quando a luz no palco era só penumbra, e o spot estava em outro ângulo...

A principal qualidade do bailarino é a expressão corporal. De longe o público via a gama variada de sentimentos que seus passos, seus braços, o movimento da cabeça e do corpo mostravam, como acontece com todos os bons bailarinos.

Eu, que o vi muito de perto, lembro bem da expressão de seu rosto, dos olhos, da boca, da fala. Você foi assistente de direção da Escola Municipal de Bailados, na gestão de Esmeralda Penha Gazal. Nesse tempo eu era pianista na mesma escola, e o staff todos os dias tinha o prazer de conviver entre si, trocando idéias. Diferenças, desentendimentos? Ah, claro, como em todos os grupos profissionais que se encontram sempre. Mas não com você, com sua alegria e senso de justiça. Pena que ficou tão pouco tempo entre nós.

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Um domingo de manhã, caminhávamos com a neta Vitória, então com três anos, perto da Praça da República. Íamos para a Biblioteca Monteiro Lobato, onde diversos espetáculos aconteceriam em seu entorno. No caminho, Sergio, eu e a pequena, encontramos Umberto e paramos para conversar. Ela imediatamente simpatizou com ele. E, puxando a aba do colete (que costumeiramente usava), fez com que ele se abaixasse para ouvi-la. Umberto não fez por menos: se abaixou até a altura do rosto dela. Vitória, felicíssima, entusiasmada, contou tudo o que iria ver naquela manhã ensolarada e de festa para crianças.

Com grande atenção, ele ouviu tudo o que ela contava. Depois, muito sério, perguntou: “Mas você vai ver tudo isso... só com dois olhinhos?”

Em outra ocasião, na própria escola, a criançada do 2º ou 3º ano fazia uma algazarra que se ouvia de longe, enquanto a professora, atendendo a mãe de um aluno, demorava a chegar. Entramos juntos na sala, Umberto e eu. Ele estava preocupado, sério, tenso. E sem saber como segurar toda aquela energia, para que o barulho não atingisse as outras salas, onde as aulas iam começar. Confabulamos um pouco e sugeri reunir os alunos em dois grupos que deveriam alternar as palmas, seguindo o tempo forte e o tempo fraco de cada compasso. Escolhi rapidamente uma música curta e divertida. Umberto dividiu os grupos e ficou entre eles.

Em poucos minutos, um pouco antes da música acabar, a sala ficou organizada, e logo a professora chegou. Quando olhei para ele, ainda no meio dos dois grupos, vi que seu rosto tinha a mesma expressão que a dos rostinhos ao redor: estava relaxado, um meio sorriso. Parecia ter voltado no tempo à infância distante, à despreocupação, às brincadeiras...

E saiu sorridente, leve, depois de agradecer a mim e às crianças.

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No último dia 6 de maio, sábado, Umberto teria completado 66 anos. Hoje ele dá nome ao Centro de Dança Umberto da Silva, na Galeria Olido. Merecida homenagem, pelo significado de seu trabalho.

Tive, como muitos outros, a sorte de ter conhecido de perto Umberto da Silva. Por ter compreendido um pouco de seu coração.

E por não ter esquecido uma pessoa tão especial.