“in
memoriam”
Tendo em vista o pouco destaque dado
pela imprensa especializada ao falecimento do reconhecido pianista Cláudio de
Britto, nós, amigos e admiradores de seu talento e capacidade, nos reunimos e,
de maneira concisa, expressamos nossa admiração por ele neste pequeno texto. Os
dados biográficos foram compilados por Sergio Roberti de Nucci, também seu
amigo e admirador.
Faleceu na cidade de São Paulo, no
dia 26.3 último, o pianista Cláudio Cimma de Brito, “in arte” Cláudio de Britto. Nasceu em 20.6.1933 no Rio de Janeiro,
e se radicou desde jovem na capital paulista. Foi aluno do Conservatório
Dramático e Musical de São Paulo, onde se formou em 1951. Recebeu orientação de
Sebastian Benda (Salvador, 1958-59) e freqüentou em São Paulo, de 1960 a 1963,
curso para formação de professores de Música. Na Europa, estudou com Jeanne
Blancard (Paris, 1956) e Edith Axenfald (Freiburg im Breisgau, 1964-68), na
Staatliche Hochschule für Musik.
Por concurso público, assumiu em 1973
as funções de pianista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, da qual
foi solista e onde permaneceu até sua aposentadoria nesse cargo, em 2000.
Paralelamente, participou de festivais, foi concertista e camerista com
apresentações no Brasil, Estados Unidos e países da Europa e América Latina,
com repertório que incluía peças de Mozart, Chopin, Schumann, Debussy, De
Falla, Fauré, Kleinsinger e autores brasileiros.
Em São Paulo, apresentou-se no Teatro
Cultura Artística e nos Auditórios do MASP e do SESI, entre outros. No Teatro
Municipal de São Paulo, atuou com a antiga formação do Quarteto de Cordas da
Cidade de São Paulo e foi solista da Orquestra Sinfônica Municipal, em 1976,
sob regência do maestro Pedro Ignacio Calderón no Concerto em sol maior para piano e orquestra K.453, de Mozart, e
nas apresentações de 1978 e 1981 de Noites
nos jardins de Espanha, de De Falla, respectivamente sob condução dos
maestros Enrique Jordá e Roberto Schnorrenberg.
Interessado na divulgação de obras de
compositores nacionais, Cláudio de Britto deixou significativa discografia para
piano dos autores Miguez, Levy, Braga, Nepomuceno, Villa-Lobos, Nazareth e
Cimino, que pode ser consultada no site www.claudiodebritto.com.br. A musicista
Nilcéia C. da Silva Baroncelli observa que “o
pianista Cláudio de Britto possuía, além da interpretação correta e brilhante, o
raro talento de combinar bom gosto com equilíbrio, na formação de cada programa
que tocou ou gravou”.
Para
o produtor Denis Molitsas, a principal característica de Cláudio de Britto era “...o seu profissionalismo. Para ele só
valia a música realizada em seu mais alto nível. E isso ele demonstrava não
somente em suas gravações, mas também nas várias apresentações que realizou em
sua carreira”, e que possuía outras “duas
particularidades principais em suas execuções: a técnica apurada e segura, e
uma sonoridade orquestral de beleza ímpar”, sendo “possível hoje observar isso nas várias gravações que deixou como
testemunho de sua arte”. Denis lembra também que o pianista era “mestre em arranjos que realizava nas mais
belas composições populares nacionais e internacionais”, mas que,
modestamente, considerava ser esse talento “só
uma brincadeira entre amigos”. Finaliza afirmando que “agora, em sua ausência, temos o privilégio de compartilhar de sua arte
através das maravilhosas gravações que deixou”.
Atuou também como acompanhador. O
soprano Marília Siegl, que por muitos anos apresentou recitais de canções de
câmara acompanhada ao piano por ele, o considerava “um dos mais preparados pianistas acompanhadores que São Paulo já teve,
assim como o foram Fritz Jank, Iracema Barbosa e Selma Asprino”.
Cláudio de Britto foi por três vezes
agraciado com Prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA: em
1982, “Melhor Recitalista” por sua
carreira solo; em 2009, “Melhor CD”
pela gravação do CD “Panorama da Música
Romântica Brasileira para Piano”, e em 2011, recebeu o Prêmio Especial pelo
“Conjunto da Carreira como Pianista e
Musicólogo”. Consagrado pelo público e considerado pela crítica como “um dos mais versáteis pianistas
brasileiros”, para o crítico Luís Roberto Trench, “Cláudio de Britto foi um dos maiores pianistas brasileiros de todos
os tempos, com uma raríssima e superior compreensão das obras dos compositores
brasileiros que gravou”.
Com sólida carreira de
intérprete, Cláudio de Britto dedicou-se ainda ao magistério, deu aulas particulares
e em faculdades de música, destacando-se entre seus alunos a pianista Sylvia
Maltese, para quem, “além de
grande pianista, foi um dos mais completos músicos que já tivemos, com uma
atuação brilhante como pianista solista, solista de orquestra, camerista
notável, participante de orquestra e dedicadíssimo professor. Notabilizou-se
pela ampla pesquisa, divulgação e gravações do repertório brasileiro,
principalmente do século XIX. Quando ouvimos suas gravações, nos maravilhamos
com o grande artista que proporciona ao ouvinte registros sonoros com extrema
qualidade de som, fraseado impecável e interpretações construídas através da compreensão
estética e musical das obras”.