Nascido em Campos, Sergipe, no dia 7 de junho de 1839, e
falecido em Recife, Pernambuco, aos cinquenta anos, Tobias Barreto foi poeta,
iniciando com Castro Alves a poesia condoreira, na qual o poeta bahiano
destacou-se e se firmou, restando hoje como a figura proeminente do gênero.
Tobias Barreto poeta se revela um grande admirador dos
músicos, e consta que ele mesmo escrevia poesia e música, da mesma forma que hoje os
compositores populares. Entre seus poemas, destacam-se inúmeros sobre músicos,
Chopin, Cherubini, Liszt e ... (pasmem!) Arthur Napoleão, que passou para a
história da música no Brasil quase que apenas como compositor e editor, além de
ter dado aulas para a Maestrina Chiquinha Gonzaga, já adulta, quando ela quis aperfeiçoar sua
técnica pianística.
Arthur Napoleão dos Santos era português e apenas quatro
anos mais novo que Tobias Barreto. Fez carreira como pianista prodígio na Europa, apresentando-se em
diversos países, e veio ao Brasil aos 14 anos, ocasião em que Tobias Barreto
deve tê-lo assistido, pois escreveu um longo poema, de 8 estrofes, em sua
homenagem. Neste poema, ele diz coisas como: “Quantos anjos não
quiseram/contigo trocar as mãos!” (...) e, nos versos finais, “O teu piano é uma
força/e o teu talento uma lei”.
Não obstante sua grande admiração pelos músicos em geral e
sua louvação ao piano, Tobias Barreto não parecia acreditar muito no interesse
dos brasileiros por uma música mais fina. Pelo menos é o que revela seu poema
ANO BOM
Era um claro salão. Moças brincavam
pela entrada feliz do novo ano.
Mãozinhas d’anjo saltitavam cândidas
sobre o teclado do ótimo piano.
Um sertanejo, que presente estava,
de rude trajo e sapatões de sola,
diz ao dono da casa em tom agreste:
“Capitão, mande vir uma viola...”
Hilaridade! O bruto continua:
“Não sei que graça tem o tal piano...”
E, volvendo-se às moças que o encaram:
“Vossas mercês não gostam do Bahiano?”
Gargalhada geral. “Como? Isto é sério?”
Replica o monstro que se erguendo avança
para as meninas e lhes diz convicto:
“Não duvidem; eu toco e tudo dança”.
Chega a viola, o único pecúlio
de um dos muitos escravos da fazenda,
mas falta o arame; manda-se um moleque
buscar depressa um carretel na venda.
Volta o emissário; a cousa está completa
e o sertanejo afina o instrumento;
começa o toque, um sétimo batido
no estilo bárbaro em que sopra o vento.
Ninguém resiste!... Ao som,
que sai do peito
da viola franzina e amarela,
os homens formam roda, e as próprias moças
não têm reservas e se metem nela...
Chovem as palmas, o baiano impera:
em círculo tão nobre um fato raro!...
Movimentos, requebros e trejeitos,
de que vergonha é natural reparo.
Mas nem todas, que dançam, mostram queda
para o mister. Aquela
é desasada,
move o corpo sem graça e...coitadinha!...
nem sequer sabe dar uma umbigada!...
Porém a bela do piano...espanta!...
Pisada e porte de pessoa destra,
abre os braços, que mimo! O diabrete
saracoteia, como velha mestra.
A loura coma
esparsa!...Onde esta moça
já viu dançar-se ao toque da viola?
Pondo a língua entre os dentes, dá sorrindo
um estalo que finge castanhola!...
E o baiano prossegue, o fogo aumenta,
tudo ali se transforma em harmonia;
mas, por engano, topam no matuto
que termina e repete; “Eu não dizia?!...”
(Este ensaio é dedicado a meu primo, José Gomes de Lima, morador de Aracaju, cidade onde morou Tobias Barreto)
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