No dia 25 de outubro último, fui a São Caetano do Sul,
assistir a uma apresentação musical beneficente, organizada por Associação ATTITTUDE
- Instituição de Artes em benefício do
Abrigo Lar das Mercedes de São Caetano do Sul. O recital foi realizado no
Teatro Santos Dumont e o ingresso, um quilo de alimento não perecível, depois
encaminhado à entidade contemplada.
Em princípio, compareci como convidada especial, já que foi
estreada uma peça de minha autoria, Ser ou não ser, texto de José Bonifácio de
Andrada e Silva, o Moço. Esta peça, para canto e piano, estreou nessa ocasião,
lindamente interpretada por Vivian Salles e Diógenes Santos.
Tivemos com isso o prazer de conhecer o Teatro, o público e
um pouco da vida musical de São Caetano, uma cidade limpa e bem arrumada e,
segundo notícias de televisão, de qualidade de vida excelente. Já tínhamos
estado lá, um ou dois anos atrás, para ver uma bela exposição de pintura,
tínhamos estado na Biblioteca Paul Harris, que atualmente nos envia notícias de
seus eventos literários, e fomos assistir a uma oficina de Artes Plásticas,
ministrada pelo artista impressor gravurista Roberto Gyarfi. Essas três
unidades estão distribuídos em uma praça, e são de construção moderna e
despojada.
O Teatro é relativamente pequeno, mas confortável e tem uma
acústica muito boa. A apresentação, de
produção muito simples, sem excessos nem efeitos especiais, pôs em evidência o
que é mais importante numa apresentação musical: o talento e a preparação dos
artistas. Além disso, o recital, que não foi muito longo, nos deixou com
vontade de ouvir mais, já que foi bem estruturado e bem eclético, com artistas
bem preparados, de diferentes instrumentos e repertório exclusivamente
brasileiro.
O espetáculo começou com a jovem pianista Vanessa
Barrionuevo, que apresentou a primeira peça da série Prole do Bebê – Branquinha,
de Heitor Villa-Lobos e seguiu com o Frevo
no. 2, de Marlos Nobre. Trouxe a público, portanto, com qualidade
interpretativa, o criador da Academia Brasileira de Música e um autor vivo e
atuante, que também já foi presidente da mesma Academia,
A seguir, o violonista Thiago de Lima apresentou duas peças
de sua autoria, Manco e Armoriano, em
que, homenageando dois autores de literatura brasileira, Guimarães Rosa e
Ariano Suassuna (este recentemente falecido), permeou a composição musical com
os toques rasqueados do violão, tal e qual se faz no interior brasileiro, e que
é modo de tocar muito pouco ouvido nos grandes centros, a não ser na viola caipira.
A obra seguinte não estava impressa no programa: o
famosíssimo Trenzinho do caipira, da Bachiana no. 4, também de Heitor
Villa-Lobos. Esta obra foi interpretada pelo Duo Café com Leite, constituído
por Agatha Christie no violoncelo e Paco Nabarro no violão, em um arranjo do
próprio duo, que explorou muito bem os efeitos dos instrumentos, de maneira despojada,
mas muito convincente.
A seguir o Duo Salles-Santos, que me convidou e com quem
tive mais proximidade, já que ensaiamos juntos, e com isso tivemos oportunidade
de conversar. São também pessoas muito jovens, como os outros, e talentos
promissores. Vivian Salles tem uma bela voz de soprano, bom preparo musical, bela
presença cênica e perfil físico e interpretativo que lhe permite, se tiver
oportunidade, fazer bons papéis em
musicais – gênero que está em destaque no Brasil, atualmente.
O pianista Diógenes Santos
comentou em um ensaio que
pretende especializar-se como co-repetidor (ou ensaiador) de canto, o que,
aliás, faz muito bem. Todavia, faço a ressalva de que não deve abandonar um
estudo tecnicamente mais afeito ao solo pianístico. Nas duas obras de Edmundo
Villani Côrtes que ambos apresentaram, Valsinha de roda e Papagaio azul, na
minha peça, Ser ou não ser (estreia), houve um entrosamento muito bom, desde
quando as apresentaram, na minha casa.
Mas no solo que ele fez, na Dança – Miudinho, da Bachiana no. 4 de
Villa-Lobos, mostrou uma segurança e uma
respiração que apontam para um futuro domínio do repertório solista.
Gostamos de tudo e
esperamos novos recitais. Parabéns à Diretora da Associação Attittude, Patrícia
Dias, que organizou o evento, aos artistas e ao Secretário de Cultura de São
Caetano de Sul, que cedeu o Teatro Santos Dumont para o espetáculo.
Estamos aguardando os
próximos...
2 comentários:
gosto muito de são caetano. belo programa. beijos, pedrita
Muito obrigado pelo texto Nilcéia!
Tudo de bom hoje e sempre!
Tiago
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