O artista é aquele que tem diante de si um grande espelho.
Um espelho que reflete o mundo que o rodeia, na realidade do presente, na
memória do passado, da virtualidade do futuro. o espelho converte essa realidade em perspectiva pessoal
do artista, pois mantém inevitável simbiose com aquele ser humano
sensível que se posta em sua frente.
O mundo ali se
reflete inalterado em seu conteúdo, mas altamente alterável em sua forma, seja qual for o meio de expressão: artes plásticas,
música, literatura, artes cênicas, dança. E é isso que o artista faz: altera a
forma, mantendo sempre visível e identificável o conteúdo. Viajante do tempo e
do espaço, ele singulariza sua obra de modo a tê-la, através dos traços que lhe
destina, ligada ao momento histórico em que ela tomou sua forma, nasceu,
tornou-se “algo” – uma obra de arte.
Diante de cada um desses espelhos, de cada um desses
artistas, diante de cada obra, a sociedade reage de acordo com o que sua própria
sensibilidade lhe dita: aceitação,
negação, indiferença. Não basta o choque da originalidade, nem a perfeição da
feitura, nem as palavras que expliquem o artista e a obra de arte. Entre
milhões de criações artísticas, estonteado e surpreso com aquele todo
diversificado e enorme universo que se lhe oferece à escolha e ao aplauso, a
sociedade sempre elege os que a representam. E essas obras mais representativas
são sempre aquelas em que o olhar do artista, diante de seu espelho, seduzido e
envolvido pelo conteúdo que pode reconstruir, escolhe a forma em que,
escondido, está seu próprio reflexo.
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