O Brasil, país
tão acolhedor “para o estrangeiro amigo”, como escreveu Manuel Bandeira, tem
sua própria música como assunto para turista – e trata seus músicos que
defendem a música erudita do país como cultores de curiosidades. Então, o que
podem fazer os que amam e admiram a nossa música e se identificam com ela?
Pois temos em
São Paulo uma ilha, pequena mas muito importante, onde a música brasileira é
tratada como verdadeira dona e senhora. Trata-se do Centro de Música
Brasileira, sociedade civil sem fins lucrativos, que foi fundada em São Paulo
pelo Professor e Compositor Osvaldo Lacerda e sua esposa, a Pianista Eudóxia de
Barros. O ato de fundação foi em dezembro de 1984 (vai completar 30 anos,
portanto) e iniciou suas atividades em abril de 1985, com recital de Eudóxia de
Barros no Teatro Cultura Artística.
Para poder
visualizar a importância e o destaque que se dá à música brasileira,
consultamos o blog do Centro de Música
Brasileira e fizemos um equacionamento das apresentações nele relacionadas,
correspondentes aos anos de 2012 e 2013. Nessa época o Presidente da entidade,
desde sua fundação, Prof. Osvaldo Lacerda,
havia falecido. Chegamos aos seguintes resultados:
Em 2012/2013 os
compositores apresentados foram Osvaldo Lacerda, Breno Blauth, Dimitri Cervo,
Fabio Leal, Lina Pires de Campos, Liduíno Pitombeira, Oscar Lorenzo-Fernandez,
Francisco Mignone, Henrique Oswald, Almeida Prado, Camargo Guarnieri, Nilcéia Baroncelli, Pedro Camin, Dierson
Torres, José Lino Flemming, José Siqueira, Fernando Cupertino (atual
Vice-Presidente da entidade), Edino Krieger, Edmundo Villani Côrtes, Matheus
Bitondi, Mario Ficarelli, Alberto Nepomuceno, Ernani Aguiar, Heitor
Villa-Lobos, Ernst Mahle, Gilberto Mendes, Silvio Ferraz, Ronaldo Miranda,
Radamés Gnatalli, Pedro Cameron, Eunice Catunda, Sophia Helena Veiga de
Oliveira, Sergio Oliveira de Vasconcellos-Correa, Felix Otero, Waldemar
Henrique, Marcus Siqueira, Nilson Lombardi, Ernesto Nazareth, Maria Amélia de Souza
Queiroz, João Francisco Leal, Marcos Portugal, Pe. José Maurício, Jayme Ovalle,
Chiquinha Gonzaga, Inácio da Silva, Gabriel Trindade, um anônimo, Reginaldo
Carvalho, Pedro Marinho, Eli-Eri Moura, José Alberto Kaplan, Gazzi de Sá,
Vladimir Silva, Antonio Ribeiro, Ailton Escobar.
Comentando de
forma muito breve esses compositores, vemos que muitos são contemporâneos e estão em franca atividade; outros vêm do Brasil
Colônia, do Brasil Império; outros são
já do século XX, mas estão falecidos. Desses 56 nomes, 6 são mulheres – uma
raridade em apresentações de música brasileira.
Já que os meios
de expressão apresentados são também muito variados, vejamos os poetas contemplados
nos recitais de/ou canto e piano, em 2012 e 2013: Paulo Bonfim, Manuel
Bandeira, Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo, Castro Alves, Casimiro de
Abreu, Gonçalves Dias, Ribeiro Couto, Ferreira Gullar, Manuel João Monteiro,
Alphonsus de Guimaraens, Olavo Bilac,
Martins d’Alvarez, E. Freitas Guimarães, Vicente de Carvalho, Cecília Meireles,
Renato Lacerda (pai de Osvaldo Lacerda), Mário de Andrade, Mário Quintana, A.
de Campos, Ascenso Ferreira, Zé da Luz.
Dos vinte e dois
poetas apresentados, muitos aparecem mais de uma vez. E a época de seu
florescimento corresponde mais ou menos às mesmas épocas dos autores de parte
musical. Não é demais observar que a programação dos 2 anos comentados traçam um
mapa sonoro e literário do Brasil, em diversas épocas.
Alguns
compositores aqui citados foram alvo de apresentações em sua homenagem, como
Osvaldo Lacerda e Almeida Prado, ambos, no caso, recentemente falecidos. Já o
recital de 23.3.2012 foi em homenagem à cantora e professora Magdalena Lébeis
(1912-1984) em seu centenário de nascimento. Neste recital, o poeta Paulo
Bonfim, sobrinho da homenageada e autor de um dos textos cantados, esteve
presente e disse lindas palavras sobre sua tia e a música.
Os intérpretes
que se apresentaram nesses recitais, e em anos anteriores também, são em grande
número, e, embora o piano esteja presente em quase todas as apresentações, a
Orquestra de Cordas Laetare, sob regência de Muriel Waldman, o Coral da Cultura Inglesa, sob regência de Marcos Júlio
Sergl, o Coro de Câmara de Campina Grande e a Camerata Cantareira também
marcaram presença nesse biênio. Os duos de piano com os sopros flauta, oboé e
clarineta e os arcos violino e
contrabaixo foram bem representados em alguns eventos.
Vale destacar a
apresentação dos alunos da Escola de Música de São Paulo, que em 2012
homenagearam Osvaldo Lacerda, e no primeiro recital de 2013, dele apresentaram
obras para piano solo, clarinete, canto e piano, flauta, trombeta, marimba,
percussão e quinteto de metais.
Procurei
valorizar a variedade de autores de música e de poesia, para destacar o grande número de criadores e intérpretes que
constituem a nossa música, que em sua essência é muito variada. Nestas
apresentações – e lembremo-nos que estamos falando de apenas dois anos de
recitais – essa grande variedade ficou bem explícita. Para quem gosta de música brasileira, este já
é um painel muito representativo. Até porque muito do que foi apresentado não
existe em gravações ou, quando existe, está em produções independentes, que não são de fácil acesso.
Mas como o
Centro de Música Brasileira já vai completar trinta anos, podemos multiplicar
por quinze este número de autores e
poetas e ter o cálculo de tudo o que tem sido feito pela música do Brasil nesse período.
Se no item “música
ao vivo” temos tudo isso que foi mencionado, e os recitais não aconteceram só
em São Paulo, vejamos quanto mais foi
realizado neste período: sete concursos de interpretação da música brasileira,
sendo sete para canções de câmara, cinco de música brasileira para piano e dois
de músicas brasileiras para flauta. Alguns desses concursos receberam apoio da
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, que ofereceram os prêmios. Em 2008 a entidade realizou um Concurso de
Tocata para Piano, com prêmio em dinheiro oferecido pela mesma Secretaria de
Cultura, e a obra premiada foi impressa pela Academia Brasileira de Música.Houve
ainda um Concurso de Monografia “O
Dobrado” e , em seus primeiros anos de existência, um concurso de composições
musicais, em parceria com a Biblioteca Mário de Andrade.
Apesar de sua
visível utilidade pública, o Centro de Música Brasileira “não conta com
subsídios de entidade nem particulares, nem governamentais, com exceção de
esporádicos patrocínios dos prêmios dos
concursos ou apoios culturais”, como diz seu release. A sobrevivência financeira se dá
através de anuidades de associados, e,
além de outros patrocínios esporádicos, de grandes empresas, desde 1995 recebe
apoio contínuo da Cultura Inglesa de São Paulo, em cujos auditórios realiza
seus recitais.
No Brasil a
cultura, infelizmente, é como os cometas: chegam, mas não ficam muito, vão embora e demoram a voltar. Vamos então
fazer um movimento para manter o Centro de Música Brasileira com todo seu
brilho, contribuindo ao se associar a ele, mas também comparecendo a seus
recitais. A música clássica (ou erudita) brasileira merece ser usufruída - ela alimenta os ouvidos, a alma e o
coração.
P.S - Visite
www.centrodemusicabrasileira.blogspot.com.br para conhecer em detalhes a programação aqui
mencionada. Pelo e.mail cmbrasileira@gmail.com
você pode obter mais informações sobre a programação mensal e se associar ao
Centro de Música Brasileira.
Um comentário:
belíssimo texto! beijos, pedrita
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