1922
foi um ano marcante para os brasileiros e sobretudo para os paulistas. Há
apenas um lustro do final da Primeira Grande Guerra, todos os olhares se
voltavam para o futuro e simultaneamente para o passado. A República, proclamada
há 33 anos e já consolidada, procurava caminhos, entre militares e civis. Muitos
remanescentes das lutas pós-proclamação da República ainda estavam vivos e
defendiam seus pontos de vista de maneira incisiva e inflamada.
Construir
o Monumento do Ipiranga foi o passo mais concreto rumo a uma identidade
brasileira, que uma situação de pós-guerra exigia. Em complemento à excelente reportagem “Um
italiano às margens do Ipiranga”, escrita pelo jornalista Luiz Quesada na publicação
Cultura Dia-a-Dia, nr. 38, setembro de 2004,
a origem do Monumento é esclarecida com detalhes. Segundo o texto,
apesar da oposição dos intelectuais nacionalistas, que queriam um vencedor
brasileiro, o concurso criado pelo Governo do Estado em 1917 para criação do
Monumento foi vencido pelo italiano Ettore Ximenes, e, não havendo nele referências
diretas à história da nossa independência, mais tarde acrescentaram-se
elementos remetendo a movimentos independentistas anteriores ao Grito do
Ipiranga.
A
festa dos cem anos da Independência do Brasil, com inauguração do Monumento, em
1922, foi uma grande festa, à qual compareceu grande parte da população da
cidade, e se deu com a música composta especialmente para a ocasião por Savino
De Benedictis, músico nascido na Itália e radicado em São Paulo desde a juventude.
Em uma época em que os sistemas de amplificação e gravação ainda estavam em
seus primórdios, a massa sonora preparada para o evento constou de mais de seis
mil vozes, grande orquestra e banda, além de formação de clarins que se fizeram
ouvir na esplanada frente ao Museu do Ipiranga.
Centenário
- poema sinfônico, foi composto especialmente para a celebração da efeméride. Dura
cerca de 12 minutos e tem quatro movimentos: Meditação de Dom Pedro, Alvorada,
Cavalgada e Hino. As seis mil vozes mencionadas (este total é citado pelo
jornal Diário Popular) cantaram em
uníssono o último movimento, cuja música foi composta sobre texto de Henrique de
Macedo, poeta, cronista, jornalista, médico e advogado, nascido em Jacareí em
1880 e falecido em São Paulo em 1944. O texto de H. de Macedo é relativamente
curto: ”Quer ser livre a nação e diz Fico / o Monarca integérrimo e forte / que
há cem anos bradou deste pico /a sentença de luz: Livre ou morte! / Salve, salve,
salve Ipiranga, ó colina / que há cem anos serviu de Tabor / para um povo a
cadeia ferina / transformar num eterno fulgor / num eterno fulgor!”.
O
maestro Savino De Benedictis, nascido em Bari, Itália, em 1883 e falecido em
São Paulo, SP, em 1971, foi professor, regente, compositor e musicógrafo. As linhas
melódicas por ele desenvolvidas para
cada movimento do poema sinfônico têm a grandiosidade que o tema exigiu, e
transformou a obra que escreveu em um verdadeiro monumento musical.
Essa
celebração, que hoje tem noventa anos, merece ser lembrada por seu significado
e ineditismo, principalmente porque sinaliza a importância de São Paulo no
momento em que demonstrava a pujança que mais tarde a colocaria entre as
maiores cidades do mundo, e a transformaria na Capital econômica e financeira
do país.
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