quarta-feira, 1 de junho de 2011

VOZ, VIOLÃO E ENCANTAMENTO

Adélia Issa, soprano, e Edelton Gloeden, violão, nos ofereceram, no último domingo de maio, pequenas e raras jóias musicais, às quais acrescentaram o brilho de suas interpretações. Raro foi esse evento, realizado na série Cortinas Lyricas, do Teatro Oficina, porque são poucas as oportunidades que temos de ouvir composições que vêm da Idade Média e Renascença, e ainda mais raras quando são obras compostas originalmente para voz e violão.

As peças de “tradição e folclore” – subtítulo do evento – são em inglês, em arranjos de Benjamin Britten; em espanhol, em arranjos de Robert Gehrard e de Joaquin Rodrigo, famoso por seu Concerto de Aranjuez; em francês, arranjadas por M. Seiber. As raras canções em português são harmonizadas por Fernando Lopes Graça, escritor, compositor e musicólogo português, que assessorou Béla Bartók em Portugal, quando este dedicou-se às pesquisas folclóricas em solo lusitano. Mais conhecido como escritor e musicólogo, Lopes Graça demonstrou boas qualidades em seu trabalho composicional.

O recital contou ainda com peças para violão solo, que entremearam a parte de canto. A Mazurca de Tansman e as Sevillanas, de J. Turina ,são obras fortes, que exigem técnica firme e virtuosismo ( o que Gloeden realiza com plenitude). A segunda obra, dedicada a Andrés Segóvia, com seus “rasqueados”, evoca o repertório flamenco. O violão brasileiro, que é uma tradição à parte, foi representado por Radamés Gnatalli, com sua Tocata em ritmo de samba nr 2, que exige as mesmas qualidades que as anteriores.

O argentino Carlos Guastavino, falecido em 2000, compareceu com a encantadora e nostálgica Pueblito, mi pueblo, que nos anos de ditadura foi uma espécie de hino dos exilados políticos – conforme nos informou Adélia Issa. E o brasileiro Mozart Camargo Guarnieri, falecido em 1993, foi representado pelas 3 canções brasileiras, que trazem o mesmo tom jocoso que as peças antigas: Vou-me embora, Quando embalada e Quebra o coco, menina (esta, com texto de Juvenal Galeno).
O bis não foi menos interessante: a cantiga de Natal de Ernest Mahle com texto de Vinícius de Moraes.

O perfeito entrosamento entre ambos, a bela voz e interpretação solta, leve e adequada, de Adélia Issa, e a feliz escolha de repertório deixaram o público entusiasmado. Tão entusiasmado que os aplausos emocionaram até as lágrimas a produtora do evento, Naomy Schölling. Graças ao patrocínio da Petrobras, que vem presenteando o público paulista com belos recitais, foi colocado em cena um jovem poeta, Daniel Ferreira, que, parafraseando trechos do repertório, manifestou em versos seu deslumbramento.

Um domingo feliz para todos nós. Que nos irmanamos nos aplausos... pela beleza e encantamento...pelos momentos felizes, ao som de voz e violão ...

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