quarta-feira, 25 de julho de 2012

FARMÁCIA MERCER, DE TIBAGI, PARANÁ

Minha infância, no Norte do Paraná, foi pontuada por viagens em direção a Curitiba, em roteiros que não sei  especificar, pois crianças não prestam atenção a essas coisas. Sei que, até um dado momento, sempre que viajávamos, meu pai sempre fazia uma “parada” que me era muito agradável: a Farmácia Mercer, em Tibagi.


Junto à farmácia morava a família de minha tia Edith Mercer Gonçalves, casada com meu tio Evaldo Gonçalves, hoje o último remanescente vivo daquela geração. Quando eu via o rio, sabia que estávamos chegando na cidade,  onde nosso ponto era a Farmácia Mercer, e onde éramos recebidos com muito carinho. Lembro-me do Sr. Aroldo, a quem eu admirava muito, desde que soube que ele conhecia bem o Latim – se não me engano, era professor dessa matéria, quando ela constava do curriculum escolar. Lembro-me também muito da Sra. Maria Mercer, a quem continuei vendo até os anos 80, pois ela vinha a São Paulo, com Tia Edith, e as duas irmãs faziam questão de me visitar. Eu admirava muito o trabalho de frivoleté, uma renda de origem francesa, na qual as irmãs eram mestras. Devo confessar que consegui aprender um pouco de latim, mas ainda não consegui aprender frivoleté...

Naquela época, eu me encantava com o aspecto antigo da cidade de Tibagi, afinal tão perto de uma região recentemente colonizada, o hoje chamado Norte Pioneiro, onde nasci.Minha cidade  natal, Cambé, hoje parte da Grande Londrina, crescia visivelmente, dá para ver sua expansão a partir das fotos de minha infância, as casas surgindo ao redor da nossa, do meu primeiro para segundo, terceiro, quarto ano de vida...  Aos meus olhos de criança, Tibagi me parecia que tinha estado sempre ali, que sua praça central teria sempre as árvores do mesmo jeito, que seu silêncio harmonioso jamais seria quebrado e que todas as senhoras da cidade tinham como principal atividade fazer frivoleté.

Em maio deste ano, 2012, fomos comemorar os noventa anos do tio Evaldo, e encontrei lá os Mercer da minha geração, a convite dos Mercer Gonçalves, que são meus primos. Conversa vai, conversa vem, alguém contou que a Farmácia Mercer completa neste ano seu primeiro centenário  de atividade, sempre com a mesma família. O Sr. Leopoldo  Mercer, patriarca deste ramo, foi o primeiro, e além de farmacêutico, seguiu a carreira política; foi sucedido por seu filho Dr. Douglas, de quem me lembro, e que faleceu novo, deixando a responsabilidade de continuar a farmácia com sua viúva, Sra. Querubina, de quem eu me lembrava e que tive o prazer de reencontrar. Seu filho Dr. Luis Tadeu, que me  deu mais detalhes da farmácia  para este texto, é o atual titular, e criou um laboratório de Análises Clínicas na cidade.Ele já prepara a sucessão, para seu filho Dr. Luís Felipe.

Ao voltar para São Paulo, no exemplar de maio do Aeroporto Jornal, achei uma reportagem que informa que Tibagi tem cerca de 270 anos de fundação, 140 de emancipação política   (mais ou menos quando a família Mercer mudou-se para lá), que surgiu da atividade de garimpo de diamante, e que sua história  se materializa  através de 2 Museus. Além disso, desde 1992 cultiva o turismo, no seu Parque Estadual do Guartelá, onde está parte do canyon  do rio Iapó, sexto maior do mundo em extensão . Além disso, apresenta pinturas rupestres feitas pelos Caingangues, etnia indígena que habitava o local.

    Certamente a Tibagi de hoje não é tão pequena e silenciosa como a que eu conheci. Cresceu, tem novos ares, é cidade turística. Hoje ninguém estuda latim, suponho que ninguém mais faz frivoleté, e imagino que mesmo as cidades do interior sejam sonorizadas a ponto de não haver mais silêncio que se preze em lugar algum. Mas, sem  em  Tibagi existe uma coisa tão rara quanto uma família que se dedica há cem anos a manter a tradição, pode ser que lá se encontre ainda um refúgio de sossego e tranquilidade, coisas que os grandes centros perderam e talvez não recuperem jamais.