sábado, 7 de janeiro de 2012

IL MONDO ALLA ROVERSA o sia LE DONNE CHE COMANDANO

Este é o título de um “drama bernesco per musica di Polisseno Fegejo Pastor Arcade (Carlo Goldoni) e Baldassare Galuppi, detto Il Buranello”, que Gian Giuseppe Bernardi comenta na revista Musica d´Oggi, ano XVI, nr 6, junho de 1934, p.206-209.

A parceria entre Carlo Goldoni, poeta, e Baldassare Galuppi, músico, começou em Veneza, em 1740, com a produção de óperas sérias. Depois Goldoni viajou por outros reinos italianos, retornando a Veneza em 1758, com a companhia Medebac. O trabalho conjunto da dupla recomeçou no ano teatral de 1750, com quatro óperas, entre as quais Il mondo alla roversa, ópera bufa. Esta é uma comédia satírica, arguta, na qual eles miram o predomínio das mulheres na vida social da época.

O argumento é mais ou menos o seguinte: em uma ilha dos antípodas, as mulheres fundam um reino matriarcal, onde os homens são escravos sem correntes, escravos voluntários do amor,e cuidam da horta, da cozinha, da roca etc. Servem também de animais atrelados ao carro triunfal das rainhas. Estas têm, cada qual, seu escravo predileto: Cinzia, Giacintino; Tullia, Rinaldino; Aurora, Graziosino.

Por motivo de ciúmes, surge a idéia de mudar a forma de governo para monarquia, com uma só rainha absoluta. Enquanto se organizam as eleições, chega à ilha uma barca de novos escravos, entre os quais Ferramonte, que vem com a finalidade de envergonhar os “profanadores do decoro” e induzi-los a retomar a “qualidade natural de patrões”. Assim, cada rainha cede sua parte de comando a seu favorito, dizendo: “Pietà, pietà di noi – Voi siete tanti eroi”, e o coro responde: “Le donne che comandano / è Il mondo Allá roversa / Che mai non durerà”.

A ópera segue a forma tradicional, e a música sempre se adapta à ação. O exemplo mais significativo está na ária de Graziosino, namorado de Aurora, que é encarregado por esta de derrubar a odiada rival, Cinzia, recebendo para isto uma espada. Mas Graziosino é um homenzinho tímido, e Cinzia, uma mulher feroz. Que situação difícil! Desobedecer Aurora ou enfrentar Cinzia? A ária demonstra às mil maravilhas o cômico contraste entre os dois medos que se enfrentam no ânimo do Herói. Este, depois de consultar-se longamente, toma a decisão:“Io mostrerò bravura / Sintanto che potro / Ma quando avrò paura / Allora fuggirò...”

Não menos interessante é a edulcorada declaração de amor de Aurora a Graziosino, toda de trilos e grupetos. Aliás, a tessitura das vozes, os excessivos vocalizes, trilos, mordentes e grupetos, como a música da época exigia, faz eriçar os cabelos dos cantores de nosso tempo.

Il mondo alla roversa é uma bela ópera, que mereceu o sucesso obtido: estreou no Teatro San Cassiano em 1750, foi reprisada no Teatro San Samuel no carnaval de 1753 e depois teve récitas em Milão, Turim, Cittadella, Dresden, Hamburgo, Modena, Bolonha, Bassano e Mônaco.

Mas hoje em dia...diante de Dilmas, Angelas, Cristinas e outras, alguém ainda ousaria dizer que, com as mulheres no comando, o mundo está de pernas para o ar?