terça-feira, 13 de setembro de 2011

O VOTO FEMININO NO BRASIL

A reivindicação do direito de votar, em alguns países do mundo ocidental, é bastante antiga. Mas como movimento que se organiza data mais ou menos da segunda metade do século XIX. Em 1865 forma-se em Manchester, na Inglaterra, o primeiro grupo de mulheres dispostas a lutar para conquistar este direito. Esta luta fortaleceu-se a partir de 1904 em diante e é nesta época e entre esses grupos que destaca-se a figura de Ethel Smyth, autora da March of the Women, de 1911 (um século atrás!) da qual falamos em texto específico no blog www.mulheres-compositoras.blogspot.com.
No Brasil, em 1873, Francisca Senhorinha da Motta Diniz, editora do jornal O Sexo Feminino na cidade de Campanha, MG, sugeriu que as mulheres pudessem votar em eleições municipais. Após a proclamação da República, o jornal mudou seu nome para O Quinze de Novembro do Sexo Feminino e criou coluna importante em função do sufrágio feminino. Já a editora do jornal A Família, Josefina Álvares de Azevedo, escreveu e fez representar uma peça chamada O Voto Feminino, que se contrapõe à peça de França Júnior, As doutoras, na qual as mulheres são ridicularizadas ao reivindicar acesso a profissões de nível superior e ao voto.
Em 1883, o direito ao voto feminino já contava com organizações nos Estados Unidos. Carrie Chapman Chat, americana, conseguiu em 1902 uma conferência internacional em Washington para debater a questão do voto feminino. A Aliança Internacional pelo Sufrágio da Mulher, organização permanente sugerida nesta ocasião, foi lançada num Congresso em Berlim, em 1904. Esta Aliança começou com apenas 8 associadas e gradativamente foi ganhando mais adeptas. Em 1922, em Baltimore, durante a Primeira Conferência Pan-Americana de Mulheres, uma pessoa de fundamental importância para o movimento sufragista brasileiro apareceu em cena: Bertha Lutz.
Assim que retornou ao Brasil, Bertha Lutz, favoravelmente impressionada sobretudo com a maneira como a luta pelo voto era desenvolvida nos Estados Unidos, transformou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que ela havia criado, na Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Esta Federação preparou ainda em 1922 um congresso de mulheres, no Rio de Janeiro, que recebeu a visita de Carrie Chapman Chat no mês de dezembro. Homens de destaque apoiaram a iniciativa, como o senador Lauro Muller e nove estados enviaram delegados oficiais, indicados pelos governadores. Foi então criada a Aliança Brasileira pelo Sufrágio Feminino, tendo como presidente a esposa do senador Justo Chermont, autor de um projeto de lei para o sufrágio feminino, em 1919. Depois desta Aliança, várias outras foram se formando ou criando filiais, e várias pessoas e associações deram-lhe apoio.
Ainda em 1922, 170 mulheres aderiram à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. É fato digno de nota que entre as inscritas, 19 se declararam compositoras, sendo superadas em número apenas pelas encadernadoras. Não se trata aqui, todavia, de compositoras no mesmo sentido que se dá a Dame Ethel Smyth. Mas não se pode duvidar de sua existência, pois antes do advento do rádio – que começa em 1923 – muitas pessoas ganhavam a vida dando aulas de piano e imprimindo partituras de música de dança e de salão, cuja venda era também fonte de renda.
Dez anos depois, em 1932, graças ao esforço envidado por tanta gente e por tanto tempo, a mulher brasileira conquistou seu direito ao voto.

Bibliografia:
HAHNER, June A mulher brasileira e suas lutas sociais e políticas: 1850-1937. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1981.