quinta-feira, 10 de julho de 2014

AS MUITAS TAÇAS QUE PRECISAMOS GANHAR



O Brasil perdeu o jogo para a Alemanha. E perdeu também a esperança de um hexacampeonato mundial, nesta Copa.

Temos perdido muitas partidas, ao longo do tempo – vamos resumir para o nosso tempo de República, já que Colônia e Império foram outras estruturas. Ao longo de nossa República, que já tem 125 anos, fomos gradativamente deixando de preparar jogadores e treinadores para o grande jogo da modernidade e da cidadania. 

Por exemplo, mudamos a estrutura do ensino diversas vezes, mas não alfabetizamos toda a população. Isto é, na República, apesar da inspiração positivista e da citação constante dos seus filósofos, ficamos no plano do discurso, sem colocar as palavras em prática. Em um Dicionário Enciclopédico, achei um artigo constitucional da década de 1870, quer dizer, do tempo de Pedro II, que estabelecia educação para todos. Só não dizia para quando.

Outro exemplo: na saúde, tivemos um embate no mínimo vergonhoso, há cerca de um ano, quando os médicos brasileiros se rebelaram com a chegada dos médicos estrangeiros, principalmente os cubanos. Não por razões que talvez fossem razoáveis, e que existem, mas por razões pífias (que ouvi pessoalmente), além da argumentação puramente individualista. Como se não houvesse um compromisso da medicina com a sociedade que ela deve atender, mas apenas com o status e a conta bancária.  Fiquei com muita vontade de perguntar se o Juramento de Hipócrates foi abolido...

A batalha contra as drogas é outra que precisamos vencer. Há anos assistimos cenas visando a mídia, de viciados sendo recolhidos para lugar nenhum. Hoje, muitas ações que provavelmente não atingem toda a população drogada, mas dão oportunidade àqueles que querem se libertar da dependência, são confrontadas por profissionais e políticos que certamente não acreditam no ser humano – o ser humano, essa enorme caixa de surpresas, onde, por vezes, no mais fragilizado, se ergue uma força inesperada, capaz de achar dentro de si a luz perdida da esperança...

E, por último, o mais importante: precisamos ganhar a grande partida da distribuição mais justa das riquezas que o país produz. Todas as iniciativas nesse sentido são amplamente combatidas – multidões de brasileiros se postam diante da trave, para impedir que se faça esse importantíssimo gol em favor de toda nossa população. Sim, pois havendo uma melhor distribuição de renda, com mais pessoas recebendo de forma digna, o dinheiro é gasto dentro do próprio país, fortalecendo a economia de cada região.

Faltou muita coisa importante neste texto: moradia para todos, combate ao preconceito, segurança à população, defesa do meio-ambiente, saneamento básico, fim da violência, nova legislação tributária, demarcação de terras indígenas etc. Citei apenas o que é mais óbvio. 

Mas os brasileiros são muito inteligentes. E cada um poderá escolher, e erguer como bandeira, a batalha que nos fará vencedores de todas as partidas que precisamos enfrentar, para viver em um país melhor. Se conseguirmos chegar a um posto mais alto em qualidade de vida, e manter este posto, já teremos vencido a mais importante de todas as barreiras: a do respeito próprio. E do respeito por nossos compatriotas.
Essa é a melhor taça que poderemos conquistar.