No dia 31 de maio, fomos assistir ao violonista Guilherme
Moreno. Ele se apresentou no Musicalis Núcleo de Música, Escola e Auditório, da
família Goussinsky, onde se realiza há vinte anos um Concurso de Violão.
Fiquei feliz ao ver, mais uma vez, um rapaz tão jovem seguir
um desejo e um sonho: conhecer o mundo da música para desvendar seu mistério –
ou seus mistérios... E a música tem muitos...
Tocando violão desde a adolescência, em grupinhos de amigos
de Vicente de Carvalho, SP, ele começou a estudar mais seriamente em 2008, no
Projeto Social Violodum. Guilherme se
interessou cada vez mais pelo instrumento e foi para uma escola, em Cubatão,
onde estudou com Eliseu Lima e Carlos Toledo; depois, com Fred Lincoln e Thiago
Moura, no Guarujá, onde conheceu a música clássica. As aulas eram em grupo, o
que facilita a integração com outros músicos; de 2010 a 2015 tocou na Camerata
Brasilis e também fez duo com Gustavo Alves.
Sua vocação para a didática do instrumento possivelmente
surgiu quando apresentou, por duas vezes, o curso Violão – Panorama Histórico,
em que explica a relação do instrumento com a História da Música, ilustrando o
Curso uma vez com violão solo, e outra em duo com Cauã Canilha. Com esse enfoque,
almeja entrar no processo para pós-graduação: para se especializar na Didática
de seu instrumento. E já se prepara estudando a didática de Mauro Giuliani.
Como recitalista, Guilherme interpreta os brasileiros
Villa-Lobos, Almeida Prado e Edino Krieger, e pretende estudar Camargo
Guarnieri e Francisco Mignone. Já tocou em Master-Classes, com professores estrangeiros.
Como professor, estudou a Filosofia Suzuki com a Profa. Renata Pereira, e
leciona na Escola Suzuki de São Paulo.
Claro que o fato de começar a estudar tão cedo (agora está
com 22 anos e no último ano de graduação) e ter como mestre Edelton Gloeden,
grande referência como intérprete e como mestre do instrumento, são
circunstâncias de peso. Os grandes mestres ensinam a boa técnica e o respeito pelo
compositor que estão interpretando. Mas a calma e a integração com o
instrumento são dons, nascem com a pessoa.
Foi isso que sentimos em seu recital. Ele interpretou o
uruguaio Abel Carlevaro (1916-2001), Federico Mompou (1893-1987) e Leo Brower
(1939). O primeiro e o último são grandes nomes da literatura violonística;
Mompou, todavia, escreveu para violão apenas a Suite Compostelana, peça que
Guilherme apresentou. A combinação e a seqüência das peças revelaram muito
equilíbrio; e Mompou, que já conhecíamos de peças para piano, soou como se
estivesse sendo tocada num cravo, e com uma leitura extremamente adequada.
Prevemos para Guilherme muito sucesso. Não necessariamente
um sucesso midiático, como os dias de hoje oferecem àqueles que fazem da
interpretação musical um espetáculo pirotécnico, mesmo em músicas que não são
adequadas para isso. Mas aquele sucesso maior, mais duradouro, que se chama
respeito.
Pois é isso que Guilherme Moreno merece. Na medida em que
ele respeita o autor e a ele se integra, sem fazer da obra um motivo para
exibicionismo, está exercendo a mais nobre função do intérprete: ser o alter
ego do compositor, e assim mostrá-lo como ele se define. E para isso é preciso
ter qualidades que Guilherme tem de sobra, como empatia, técnica, respeito e
sensibilidade.