Hoje nos sentimos felizes. Sentir-se feliz não acontece
todos os dias. E sentir-se feliz por estar ouvindo gravações antigas, se não é
estranho, é pelo menos bem inusitado.
A Oficina Cultural Casa Mário de Andrade, na casa onde nosso
polivalente intelectual morou boa parte de sua vida, promoveu uma homenagem à
cantora Dalva de Oliveira. Ela completou seu centenário em 5 de maio último, e
seu 45º aniversário de falecimento será no dia 31 de agosto próximo.
Como se vê, ela viveu pouco: apenas 55 anos. Mas nesse
espaço de tempo, cantou muito. Na publicação GiraDisco, de 27 de maio de 2017
(hoje), há uma relação das músicas que ouvimos, em discos 78 r.p.m. e uma
pequena história deste encontro: “São muitas, são todas, impossível escolher”,
foi a resposta que Biancamaria Binazzi, a radialista e produtora cultural que
conduziu o evento, obteve de internautas (principalmente pesquisadores, músicos
e colecionadores), quando perguntou qual a gravação preferida de cada um.
A amostragem sonora, e também a hemeroteca exibida em
vitrinas, foi muito interessante. Gilberto Inácio Gonçalves pilotou a vitrola
com a competência de sempre e Claudevan Melo emprestou seu incrível acervo de
jornais e revistas sobre Dalva de Oliveira. Tudo o que foi apresentado mostrou
bem o merecido sucesso da estrela.
A publicação GiraDisco, organizada por títulos das músicas,
com nome de intérpretes, autores, datas de gravação, selo e nº de cada disco
ouvido, guiou a audição. E informa resumidamente os principais fatos da carreira
da cantora, de modo a permitir seqüenciar sua vida musical e pessoal.
UMA PRESENÇA MUITO SIGNIFICATIVA: ALAÍDE COSTA
O evento contou com a presença da cantora Alaíde Costa, que
foi amiga de Dalva. Ela também é uma cantora de grandes méritos, presença
marcante e nome registrado com letras maiúsculas na história da MPB. Uma
continuadora da tradição de belas vozes e leituras expressivas. Quem não se lembra
da doçura com que Alaíde canta “Hoje a noite não tem luar, e eu não sei onde te
encontrar”? Lá estava ela, Alaíde, nos programas musicalmente inteligentes de
TVs, Rádios e depois FMs da década de 60 e posteriores. E também ela foi
homenageada quando ouvimos sua primeira gravação, de 1957... Sessenta anos!
Ângela Maria, também convidada para esta tarde, não pode
comparecer por estar fora de São Paulo. Mas mandou mensagem gravada. E Maria
Betânia, também em gravação, falou da influência de Dalva na modelagem de sua
vocação de cantora.
MUITO A DIZER
A excelente “discação” (como Mário de Andrade chamava os
encontros para ouvir gravações), não trouxe tudo que a cantora gravou, mas tem
inúmeros aspectos que podem ser analisados, no conjunto das músicas
apresentadas. Como o grande número de compositores gravados por Dalva, sua
versatilidade e a variedade de gêneros e ritmos.
Sabemos que Mário de Andrade tinha muito cuidado com a
questão da emissão vocal, tanto que realizou em 1937 o Congresso da Língua
Nacional Cantada. 1937: o mesmo ano em que Dalva iniciava sua carreira na
música popular. E podemos acrescentar que ela realizou plenamente a expectativa
dos estudiosos, pela clareza e precisão com que emite cada consoante, em
qualquer nota de seu registro tão extenso. Em uma das músicas ouvidas, observei
que ela ultrapassou em uma ou duas notas a extensão de duas oitavas.
Dalva de Oliveira tem muitíssimos admiradores, como o
escritor João Elísio Fonseca, autor de A estrela Dalva. Ele esteve
presente e nos entusiasmou a todos ao mostrar seu livro sobre a cantora.
Presente também o cantor Raimundo José, fã de carteirinha, e muitos outros que
já encontramos em outras “discações”... Todos estavam tão entusiasmados que
queríamos ouvir mais. Então, percebendo que a grandeza da artista não cabe em
apenas um encontro, nós, os felizes ouvintes, fizemos um abaixo-assinado
solicitando uma outra “discação” com a nossa
Estrela Dalva.
Palmas a Dalva. Palmas à Casa de Mário de Andrade.
E palmas a todos os que lutam para que nossa memória musical
não desapareça...
São Paulo, 27 de maio de 2017
Um comentário:
Excelente Resenha aplausos
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