sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O MONUMENTO DO IPIRANGA, INAUGURADO HÁ NOVENTA ANOS


1922 foi um ano marcante para os brasileiros e sobretudo para os paulistas. Há apenas um lustro do final da Primeira Grande Guerra, todos os olhares se voltavam para o futuro e simultaneamente para o passado. A República, proclamada há 33 anos e já consolidada, procurava caminhos, entre militares e civis. Muitos remanescentes das lutas pós-proclamação da República ainda estavam vivos e defendiam seus pontos de vista de maneira incisiva e inflamada.

Construir o Monumento do Ipiranga foi o passo mais concreto rumo a uma identidade brasileira, que uma situação de pós-guerra exigia.  Em complemento à excelente reportagem “Um italiano às margens do Ipiranga”, escrita pelo jornalista Luiz Quesada na publicação Cultura Dia-a-Dia, nr. 38, setembro de 2004,  a origem do Monumento é esclarecida com detalhes. Segundo o texto, apesar da oposição dos intelectuais nacionalistas, que queriam um vencedor brasileiro, o concurso criado pelo Governo do Estado em 1917 para criação do Monumento foi vencido pelo italiano Ettore Ximenes, e, não havendo nele referências diretas à história da nossa independência, mais tarde acrescentaram-se elementos remetendo a movimentos independentistas anteriores ao Grito do Ipiranga.

A festa dos cem anos da Independência do Brasil, com inauguração do Monumento, em 1922, foi uma grande festa, à qual compareceu grande parte da população da cidade, e se deu com a música composta especialmente para a ocasião por Savino De Benedictis, músico nascido na Itália e radicado em São Paulo desde a juventude. Em uma época em que os sistemas de amplificação e gravação ainda estavam em seus primórdios, a massa sonora preparada para o evento constou de mais de seis mil vozes, grande orquestra e banda, além de formação de clarins que se fizeram ouvir na esplanada frente ao Museu do Ipiranga.

Centenário - poema sinfônico, foi composto especialmente para a celebração da efeméride. Dura cerca de 12 minutos e tem quatro movimentos: Meditação de Dom Pedro, Alvorada, Cavalgada e Hino. As seis mil vozes mencionadas (este total é citado pelo jornal Diário Popular)  cantaram em uníssono o último movimento, cuja música foi composta sobre texto de Henrique de Macedo, poeta, cronista, jornalista, médico e advogado, nascido em Jacareí em 1880 e falecido em São Paulo em 1944. O texto de H. de Macedo é relativamente curto: ”Quer ser livre a nação e diz Fico / o Monarca integérrimo e forte / que há cem anos bradou deste pico /a sentença de luz: Livre ou morte! / Salve, salve, salve Ipiranga, ó colina / que há cem anos serviu de Tabor / para um povo a cadeia ferina / transformar num eterno fulgor / num eterno fulgor!”.

O maestro Savino De Benedictis, nascido em Bari, Itália, em 1883 e falecido em São Paulo, SP, em 1971, foi professor, regente, compositor e musicógrafo. As linhas melódicas  por ele desenvolvidas para cada movimento do poema sinfônico têm a grandiosidade que o tema exigiu, e transformou a obra que escreveu em um verdadeiro  monumento musical. 

Essa celebração, que hoje tem noventa anos, merece ser lembrada por seu significado e ineditismo, principalmente porque sinaliza a importância de São Paulo no momento em que demonstrava a pujança que mais tarde a colocaria entre as maiores cidades do mundo, e a transformaria na Capital econômica e financeira do país.  

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