terça-feira, 19 de outubro de 2010

SER OU NÃO SER ... ANALFABETO

A manobra que vem sendo empreendida contra o candidato eleito Tiririca, que visa questionar suas condições de exercer o mandato de deputado federal, já que ele seria “analfabeto”, é antiética e profundamente imoral.

Lembremos o ator e escritor Plínio Marcos, já falecido, que, invectivado por Pagu, que o chamou de analfabeto, respondeu: “Como se isso fosse privilégio neste país!”

Sou apenas Bacharel em Língua Portuguesa, e não Licenciada. Por isso, nunca lecionei, e sempre usei o conhecimento adquirido na Universidade para melhorar minha atividade de jornalista e de escritora. Mas em certa ocasião tive uma experiência que vale à pena narrar: nos anos 70, fui redatora de uma publicação chamada Enciclopédia dos Municípios. O editor desta enciclopédia era o Sr. Álvaro Abujamra, e a sede da editora era na Rua Adolfo Gordo, quase esquina com a Alameda Eduardo Prado.

O material que editávamos era fornecido pelas próprias Prefeituras, que preenchiam um questionário e mandavam fotos de suas cidades, no interior de São Paulo. Certos questionários eram preenchidos à mão, pois não só na Prefeitura como na cidade inteira, não havia uma só máquina de escrever... A caligrafia de muitos deles não diferia daquela da prova a que foi submetido o candidato eleito Tiririca. Eu encontrava entraves diários na leitura dos questionários, para fazer o texto final, tão deficiente era a maneira como estavam preenchidos. E já são mais de trinta anos que isso aconteceu!

Bem mais recente que minha experiência nessa Enciclopédia, a eleição de Baratão para Vereador,em São Paulo, demonstrou que prova de escolaridade nunca foi exigência.

Tiririca incomodou porque obteve uma vitória esmagadora. Mas se era essencial apresentar um diploma, isto devia ter sido solicitado antes. A propósito, em que letra constitucional ou jurídica se baseia a alegação dos que o condenam, mas que, antes dele, nunca questionaram nenhum outro candidato? E tem mais: se Tiririca for “cassado”, a corja que ele carrega com seus votos deve ser igualmente defenestrada!

A obrigatoriedade da alfabetização no Brasil vem da 7ª. Constituição, de 1937. Nestes 73 anos, pouco se fez para que essa fosse uma alfabetização efetiva, “de verdade”... ou não teríamos um contingente de alfabetizados cuja precariedade é visível.

Um exemplo da intenção de manutenção dessa precariedade vem da “aprovação obrigatória”, criada pelo PSDB, na rede pública do Estado de São Paulo. Os alunos aprovados sem condições, através dessa cínica situação, verdadeira falsidade ideológica, é que deveriam ser submetidos a testes. Para avaliar a profundidade do dano que isto certamente causou a seu futuro.

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